O ser humano deve se acostumar a viver como um farol na
noite dos tempos. Sempre sinalizando para as próximas gerações com a luz de uma
vida dedicada a algum progresso moral, numa atitude constante de congraçamento
com o próximo, sentimento fraterno de amor e união.
Compreender a dimensão espiritual da vida é uma alegria
imensa, que se desdobra nas particularidades da existência, constituindo um
modo de viver muito mais consistente do que o simples ato de desfrutar os
prazeres efêmeros. Agrega uma íntima satisfação por fazer parte de uma sinfonia
de almas em constante progresso, de seres como notas musicais em uma linda
melodia que vai se aperfeiçoando com o tempo.
É uma felicidade quando aquele que seguia esquecido de sua
parte transcendental, desperta para a sua realidade maior, momento em que aquilo
que não era visto por seu olhar interno, passa a ser enxergado, como uma
cortina que se abre para a percepção extra-sensorial, numa conscientização em nível
profundo, onde o que era algo possível passa a ser sentido como uma realidade. Pude
presenciar certa vez um momento assim. Sempre tive o hábito de frequentar
diferentes práticas religiosas ou espiritualistas (dentre os grupos que admitem
a realidade da reencarnação), simplesmente por poder interagir com os irmãos
encarnados em alguns dos poucos momentos em que é possível se reunir para estar
voltados em conjunto para a busca de espiritualidade. Estava eu num grupo adepto
da bebida sacramental ayahuasca, uma comunidade de pessoas sérias e
amadurecidas dentro do contexto desta prática de ampliação da consciência. Havia
uma jovem que não acreditava em nada relacionado com a espiritualidade. Era
como se ela só enxergasse a escuridão da vida, e não o brilho das estrelas que
clareiam a imensidão. A mesma, sofrendo de depressão, ouviu falar que aquele
seria um meio de obter alívio para suas amarguras, porém estava muito descrente
mesmo assim. Durante a sessão, alguns minutos após haver bebido o catalisador
da consciência, suas angústias afloraram, e a mesma começou a se lamentar em
voz alta, enquanto era acariciada com gentileza por uma participante mais
antiga, que se encontrava ao seu lado. Foi aos poucos se acalmando, e as lágrimas
a acompanharam ao longo daquela jornada. No final da noite, quando todos já se
reuniam após a sessão para consumir sucos e alimentos, pude conversar com ela. A
mesma parecia transformada. Havia um brilho diferente em seu olhar. Algo muito
intenso se revelou para a ela. Uma percepção que não haveria mais de estar
ausente em sua caminhada.
É muito feliz esta aceitação de algo maior, o ser universal,
a consciência cósmica imanente, que permanece como algo tão difícil de ser
aceito por aqueles que não usam mais das suas partes adormecidas, os potenciais
do seu cérebro que permanecem na inércia, por falta de estímulos para a percepção
das realidades alternadas.
Pela prática da meditação já tive várias vezes a felicidade
de adentrar este profundo silêncio, preenchido pela força cósmica, que se
descortina quando damos ao espírito o tempo necessário em atitude receptiva,
para que se revele uma expressão maior desta unidade com o Todo.
Constituir uma civilização assim, de seres que percebem esta
ligação com a Imanência, é o que falta para que os espíritos da Terra se
dediquem mais ao bem estar coletivo, o respeito pelo próximo, a atitude de
transmutação de suas tendências, passando a sentir mais prazer e se dedicar
mais ao que é de natureza superior.
É a visão interna que precisa estar aberta para este brilho
transcendental, não é meramente pela teoria, pelo exercício intelectual que se
chega a isto, mas por um estado de união afetiva com este ser maior, por haver
se permitido sentir o toque desta entidade universal, nas fibras morais, na
intimidade do ser.
Queremos ver surgir esta civilização de seres despertos. De
pessoas que desenvolveram a capacidade de sentir esta interação com o princípio
criador e vitalizante que se faz presente em cada partícula da imensidão. Quando
isto acontecer, será como o momento suave em que os anjos abrem suas asas de
luz, percebendo seu potencial para a liberdade do vôo, para seguir em atitude
vibrante, para muito além das limitações e tristezas da vida material.
Paz para os buscadores,
Eu sou
Targon.
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